domingo, 22 de março de 2009

A HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DAS TRADIÇÕES


Em 1969, cinco anos após a morte de Gardner, a Wicca, já se tornara muito conhecida nos EUA. Susan Roberts escreveu um livro chamado “Witches USA” (Bruxas Americanas, ou BRUXAS na América) que continha diferentes informações e relatos sobre as práticas e os praticantes da arte. Algumas das pessoas citadas no livro, tais como Ed Fitch e Joe Wilson (que realmente eram iniciados), perceberam que com a publicação deste livro ocorreria uma grande demanda de pessoas em busca de informações sobre a Arte. Aproveitando isso, Ed publicou no mesmo período dois livros que continham informações que ele já há algum tempo havia selecionado, um se chamava “Outer Court Book of Shadows” (Livro das Sombras fora da corte, da elite, melhor traduzido como Material não iniciático ou importante do BOS) e um outro livro chamado “Grimoire of Shadows”. De acordo com Fitch esse material seria uma fonte de pesquisa inicial para as pessoas interessadas e não continha nenhum tipo de material secreto que pudesse pôr o BoS em perigo (revelando os mistérios).

O conceito “Outer Court” visava que todo o material fosse distribuído largamente, sem a necessidade de citar fontes, uma espécie de curso para que as pessoas pudessem aprender as bases da religião e tirar suas dúvidas. O importante era partilhar conhecimento. Nessa onda de “partilha” muitos textos inventados e muitos materiais confusos e remendados começaram a serem distribuídos como informações secretas e válidas dentro da comunidade Wiccan.

Apesar do grande crescimento desordenado de informações ditas Wiccans, o maior Boom de interessados ocorreu após 1973 quando o até então Gardneriano Raymond Buckland (da linha Olwen, iniciado apenas no 1º) inventou e lançou em seus livros as possibilidades de seguir a WICCA de modo solitário e sem dúvida a mais estranha e díspar: a Auto-iniciação. Agora para seguir a WICCA não eram mais necessários Covens, Sacerdotes, Tradição ou regras, tudo era livre, podia ser trabalhado da forma que melhor se adequasse aos caprichos daqueles que buscavam caminhos diferentes das religiões maçantes da época.

Para finalizar ou piorar ainda mais essa bagunça de informações, dois autores adeptos da filosofia New Age, também viram na WICCA um bom local para “trabalhar” e criar raízes; Scott Cunningham e Starhawk, com os livros “Wicca para Bruxos solitários” e “A Dança cósmica das Feiticeiras”, incluíram a Filosofia New Age como parte da Wicca. Esses livros são muito interessantes, porém quase nada do conteúdo faz parte dos ensinamentos de Gardner, e são modelos e idéias difundidas pelos autores, absorvidas de diferentes lugares.

A WICCA livre de regras, a religião da Nova Era, o Cult dos adolescentes estava firmado. Ninguém se preocupava em saber de onde as práticas surgiram, como elas eram celebradas pelos mais antigos, quais eram as reais mensagens de Gardner em seu BoS, e muito menos se aquilo que chegava as suas mãos realmente eram materiais feitos por Gardner ou suas Sacerdotisas. Nesse momento, a WICCA de Gardner tinha sido relegada aos “Esnobes da Arte” como eram chamados os Gardnerianos e até mesmo os Alexandrinos. Para os “esnobes” apenas eles seguiam os ensinamentos de Gardner e os outros seguiam algo que poderia ser caracterizado no máximo como Neo-Wicca.

Gardner desejava que o conhecimento fosse passado, mas não de modo descontrolado, e muito menos da maneira que estava sendo. Ele desenvolveu regras, seus mistérios e ensinamentos seriam passados para os novos adeptos da mesma maneira que lhe foram passados, por um caminho iniciático e sacerdotal. Para ter um real acesso ao seu BoS, os adeptos precisavam estudar, praticar e vivenciar diferentes atividades dentro do grupo, até que através das passagens de poder (iniciações) essas pessoas amadurecessem e fossem firmadas como sacerdotes Wiccans.

Só apenas após muito tempo de práticas, estudos e vivencias o adepto teria acesso ao Bos, como seria possível este ser vendido em qualquer livraria? O que hoje é vendido como o BOS de Gardner é apenas uma fração do verdadeiro BOS que Gardner disponibilizou para os curiosos terem uma base. Boa parte dos outros livros que, “contêm informações do BOS” são trechos emendados e modificados dos materiais Gardnerianos e até Alexandrinos que se tinha acesso livre. Por isso que é comum ver um Gardneriano apontando o dedo para membros de outras tradições que foram formadas a partir dessas informações que estavam sendo vendidas como Wicca.

Obviamente, muitas pessoas possuíam um interesse real em seguir a Wicca, e por isso iam arrecadando e tentando organizar esses conhecimentos de modo que pudessem seguir da maneira mais próxima possível os ensinamentos de Gardner, visto que achar um grupo realmente Wiccan, com linhagem e seriedade era e ainda é deveras difícil. Além disso, a teologia da religião já havia sido difundida, apenas as práticas, os nomes secretos e os métodos de ensino e preparo de sacerdotes eram mantidos em sigilo pelos COVENS mais tradicionais.

Muitos grupos acabaram arrecadando conhecimentos diversos, organizaram, trabalharam em cima deles até alcançar maturidade e desse modo fundaram novas ramificações de práticas (Tradições), que apesar de em muitos casos não possuírem a ligação que Gardner tinha com um coven Mãe, criaram algo similar, que continha ao menos os objetivos e ideais de Gardner.

O que deve ficar claro para aqueles que tentam compreender as diferentes ramificações, é que para ser uma tradição Wiccan, algumas regras devem ser seguidas, os preceitos do BOS devem existir, pois caso contrário, a tradição e a prática são um ramo da BRUXARIA como um todo, e não da Wicca, afinal a teologia da religião e as regras propostas por Gardner precisam ser mantidas.
Abaixo segue alguns dos preceitos que caracterizam uma tradição da Wicca:

- Celebração e Culto em TOTAL IGUALDADE às polaridades divinas, comumente chamadas de Deus de Chifres e Deusa da Lua.
- Passagem de poder através de iniciações formais, feitas por sacerdotes constituídos, onde a sacerdotisa inicia os adeptos homens e o sacerdote as mulheres.
- Celebração dos Ritos sazonais, Sabbaths e Esbbaths em honra aos DEUSES e para criar elos de interação.
- Respeito a TERRA e a Natureza que são encarnados como uma manifestação direta dos Deuses, ou seja, todos os seres e coisas são divinos.
- Uso da magia como uma característica natural da religião e não como o seu objetivo.
- Proselitismo como uma prática inadmissível. O interesse em fazer parte da religião deve surgir de forma totalmente espontânea e, é o adepto que deve procurar o grupo e não o grupo procurar adeptos.
- Os mistérios e ensinamentos devem ser mantidos sob sigilo, apenas para que não se utilize o conhecimento, de modo a fazer mal ao praticante, onde os ensinamentos também devem ser entregues de modo gradativo dentro das famílias (covens).
- Um coven só é formado com a presença de uma Alta Sacerdotisa (iniciada no 2° ou 3°) e só se mantém seguindo o axioma: “Perfeito AMOR e confiança Perfeita”.
- A tradição deve possuir uma linhagem que retroceda até Gerald Gardner.

Nós só temos a intenção de informar e não de recriminar ou afirmar quem está certo ou errado, por isso você deve estudar, pesquisar e compreender as bases de formação da tradição que deseja seguir e acima de tudo, deve lembrar que o que vai definir a validade de sua prática não são títulos ou linhagens e sim a funcionalidade que ela possui para você, se o caminho funciona e te faz feliz não deixe de segui-lo só porque ele não é famoso ou válido para outros. A idéia expressa aqui é apenas um relato direto dos acontecimentos e uma opinião ampla sobre a importância da manutenção de certas regras para a criação de tradições.

É também muito importante lembrar que muito das práticas inseridas posteriormente à morte de Gardner são válidas como atividades mágicas, o fato de não serem práticas formuladas por Gardner, ou hereditárias de seu segmento, não lhes tiram a validade. Nisto podemos incluir a idéia de ‘Self’ da filosofia New Age, o caminho solitário proposto por Cunningham e tantas outras práticas e crenças inexistentes nos ensinamentos de Gardner e de suas Sacerdotisas.

É também interessante perceber que hoje a idéia de tradições Wiccans se expandiu a tal modo que qualquer sistema de práticas de BRUXARIA que seja criado e ganhe certa notoriedade passa a ser caracterizado como uma tradição da Wicca, quando na verdade é apenas um ramo da Bruxaria, um caminho de práticas criado por um grupo ou família.

Em virtude dessa expansão, existe na internet à disposição de todos, uma gama enorme de informações referentes a todos esses caminhos, caracterizando-os como tradições da WICCA ou somente da Bruxaria, deixando que a idéia de validade, hereditariedade e similares fique ao encargo de cada um.


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