terça-feira, 7 de agosto de 2012

MESTRES BRUXOS



O que o aprendiz espera de um mestre? Qual a missão de um mestre? Precisamos de um mestre? Que riscos corremos sem ele? Existe o mestre embusteiro, o falso mestre? Que riscos corremos nas mãos dele?
Mestres bruxos costumam ser idealizados por aprendizes como seres sobre-humanos, fontes inesgotáveis de proteção e sabedoria, espíritos que emanam bem estar e segurança com sua simples presença física, seres que demonstram seus dons incomuns e seu domínio sobre técnicas que fogem completamente ao alcance da ciência. Os aprendizes geralmente esperam dominar o que seu mestre domina, despertar em si seus dons maravilhosos e conseguir sua sabedoria. Se acham no caminho de aprender a bruxaria mas se colocam na posição de ovelhas suplicantes por um pastor que lhes dirija. A maioria não vai ao encontro do mestre buscando por esclarecimentos, ao contrário, ficam no aguardo de comandos, instruções, e acreditam que, se lhes seguirem as palavras, um dia o mestre reconhecerá seus esforços e lhe dará em um toque o domínio sobre os elementos, os sentimentos, a mente e, quiçá, o espírito.
Não poderiam estar mais enganados. Em primeiro lugar, iluminados ou não, mestres são pessoas sábias, mas como encarnados, vivem os mesmos dramas diários de qualquer um. Sua missão não é passar o conhecimento sagrado, isso pode ocorrer como pano de fundo, mas o que os mestres realmente buscam é fazer com que o aprendiz aprenda a caminhar sozinho. Ao contrário do que muitos pensam, a maior prova de sucesso de um mestre é ser superado por seus iniciados. Mas as glórias, assim como as derrotas, dependem muito pouco do mestre. Cabe ao aprendiz aprender; ao mestre, orientar. Digo e repito, sem cansar, que a caminhada é sempre solitária, que o aprendiz, por mais que esteja sendo orientado, tem de caminhar sozinho para aprender. Um mestre que leva o aprendiz sobre os ombros não está atuando como um mestre, não está ensinando o aprendiz a caminhar. Mas é sensato prescindir de um mestre e caminhar sozinho desde o início?
Mestres são dispensáveis, mas se não o tivermos, corremos riscos que não precisaríamos correr. Quem tenta acessar alguma área reservada do site da Ordem Sagrada de Bennu é direcionado para uma página com a imagem de uma caveira sobre um caldeirão sob o qual está escrito: "Cuidado, bruxaria sem mestre gera risco de doenças, loucura e morte." Isso não é uma brincadeira, é um aviso, pois o risco é verdadeiro. Estranho que os livros de bruxaria alertem tão pouco sobre isso quando o assunto é uma constante em livros de alta magia e de teosofia. Ao despertar em si processos desconhecidos, a transformação pode não ser bem o que se esperava; além de o mestre poder evitar armadilhas em que caímos no processo de aprendizagem, algo não previsto nos livros aos quais a pessoa tem acesso pode acontecer, e nestes casos, a quem o aprendiz vai recorrer se não tiver um mestre?
Uma criança não deixará de chegar à idade adulta por ser órfã desde cedo, mas isto não significa que crescer sem pais seja uma opção preferível.
A confusão não termina aí. Muitas pessoas que se acham 100% independentes, que se consideram bruxas solitárias, não se dão conta de que adotam mestres temporários quando assistem a palestras, participam de rituais abertos, de eventos pagãos, de comunidades bruxas, de dinâmicas ou vivências esotéricas. E aí pululam falsos mestres, embusteiros que, bem ou mal intencionados, só ampliam o risco, vampiros de toda a espécie e crianças que expõem a si e aos outros a situações perigosas.
Um mestre não é alguém a quem se deva "obediência", é alguém que nos ensina, alguém que ouvimos com atenção, alguém em quem acreditamos e, pelos menos em algum aspecto, admiramos. Não estabelecer um vínculo iniciático com ninguém não é sinônimo de não ter mestres. Então, escolham bem seus mestres, mesmo quando optar por não se afiliar a nenhuma linhagem bruxa. Afinal, é mais fácil encontrar embusteiros posando de mestres em rituais públicos do que fechados em coventículos; o sábios não são dados a pavonices, preferem qualidade a quantidade, não precisam nem querem provar nem a si mesmos nem a ninguém que são bons, querem apenas ser úteis.
Então existem falsos mestres?
De um certo ponto de vista, sim. Poderíamos, talvez, chamar de falsos mestres aqueles que não têm sabedoria, aqueles que atuam visando o benefício pessoal, mesmo quando tal benefício seja apenas a promoção pública, mesmo quando não busquem nada além de afagos egóicos ou reconhecimento de méritos inexistentes.
Mas por que ainda resta dúvida se devemos chamá-los de falsos mestres?
Porque mesmo que eles não tenham jamais aprendido aquilo que pretendem ensinar, aqueles que se acercam de embusteiros o fazem porque precisam, na fase em que estão, de duras lições, lições que aprenderão da pior forma possível, sendo enganados, explorados e vampirizados.
Quando acordarem do pesadelo, ainda que levem muitas vidas para acordar, poderão identificar com muitíssimo mais clareza o que é sábio e o que é estúpido, e seguirão lépidos a favor da correnteza.
Crianças ganham anti-corpos ao lidarem com a sujeira; aprendizes ganham clareza mental ao lidarem com embusteiros.
Fonte:Ordem Sagrada de Bennu
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